Interação medicamentosa: quais os riscos de consumir diferentes remédios ao mesmo tempo?

Combinar medicamentos pode reduzir a eficácia dos tratamentos e causar efeitos adversos graves

Um dos principais riscos da automedicação — prática adotada por 89% dos brasileiros, de acordo com o Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico (ICTQ) — é a intoxicação por interação medicamentosa. Ou seja, mesmo que sua farmácia caseira tenha apenas Medicamentos Isentos de Prescrição (MIPs), usá-los ao mesmo tempo pode ser perigoso. 

A interação medicamentosa ocorre quando dois ou mais fármacos são administrados simultaneamente e acabam interferindo na ação um do outro. O resultado pode ser a perda de eficácia de um ou de ambos os remédios — ou até reações adversas graves.

Segundo a farmacêutica Cézane Priscila Reuter, especialista em análises clínicas e toxicológicas, essas interações medicamentosas não envolvem apenas medicamentos: alimentos, chás ou suplementos também podem interferir na ação de um remédio. “Isso porque afetam todos os processos pelos quais os medicamentos estão envolvidos dentro do organismo: a forma como o organismo absorve, distribui (como ele se espalha pelo corpo para agir onde é necessário), metaboliza ou elimina o medicamento. Como consequência, o efeito pode ser intensificado, aumentando o risco de efeitos colaterais, ou reduzido, comprometendo o tratamento. Em ambos os casos, há prejuízo à saúde do paciente”, explica.

Doutora em saúde da criança e do adolescente pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e docente e coordenadora adjunta do Programa de Pós-graduação em Promoção da Saúde  na  Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC), Cézane aponta que as reações mais comuns envolvem tontura, sonolência excessiva, alterações na pressão arterial, problemas gastrointestinais, sangramentos e, em casos graves, intoxicações e falência de órgãos. “Também é comum que o paciente perceba que o medicamento ‘parou de fazer efeito’, quando na verdade ele está sendo neutralizado por outra substância”, afirma.

Por isso, a orientação profissional é essencial antes de iniciar qualquer tratamento, especialmente em pessoas que usam vários medicamentos – como idosos ou pacientes com doenças crônicas. “A conscientização começa pela informação clara e acessível. É fundamental que a população entenda que nem todo medicamento pode ser combinado com outro, mesmo que pareça inofensivo”, alerta Cézane.

Além de consultar um médico, informar todos os medicamentos em uso durante a consulta é fundamental para que o profissional de saúde avalie as possíveis interações. O papel do farmacêutico também é crucial: ele pode orientar o paciente sobre o uso correto dos medicamentos. 

Na dúvida, o melhor caminho é evitar misturas sem orientação, afinal, os números preocupam: segundo o Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox), o Brasil registra mais de 30 mil casos de internação por intoxicação medicamentosa todos os anos. 

Leia mais: Cuidado ao estocar medicamentos evita desperdícios e garante atendimento ágil em farmácias


Referências:

https://www.abradilan.com.br/medicamentos/pesquisa-revela-que-89-dos-brasileiros-usam-medicamentos-sem-orientacao-medica/

Entrevistada – http://lattes.cnpq.br/5984249463676775

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